terça-feira, 30 de junho de 2020

do que se pode aprender com o bordado

desde muito nova aprendi a bordar ponto e cruz com a minha vó. durante algumas tardes dos anos 2000 e tantos, aquele trabalho manual era um elo entre nós duas.
tenho a lembrança de passar horas e horas com os dedos sob a tela e o olhar atento a revistinha que continha o gráfico do futuro desenho a ser bordado.
me empenhei tanto nesse labor, que recordo com precisão da caixa azul (daquelas de sapato) em que guardava meu material de trabalho: telas, uma pequena tesoura, alguns pares de agulhas (daquelas mais grossas), alguns carretéis de linha e um par de revistas contendo gráficos para ponto e cruz.
naquela idade, paciência não era meu forte e por muitas vezes tive que desfazer meus pontos por errar. pouco restou do meu trabalho: algumas toalhas de boca e um marcador de páginas.
não me lembro muito bem como parei de bordar, mas minha carreira com trabalhos manuais foi precocemente encerrada no início da puberdade.
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em tempos de  isolamento social, (re)descobri o bordado; a experiência com o trabalho manual foi bem distinta daquela vivida por mim nos anos 2000. além da reconfortante retomada de uma memória de infância, faço aqui um breve notas dos aprendizados que obtive com o ir e vir da agulha sob o tecido:

nota número um: o bordado - assim como todo trabalho manual - requer (muita) paciência. os pontos não se transformam em um belo desenho de uma hora para outra.

nota número dois: a agulha é o seu melhor instrumento de trabalho; com ela, você alcança a precisão para poder transpassar entre os espaços da tela.  Entretanto, seu melhor instrumento, também pode ser aquele que irá de ferir; um furo no dedo de agulha pode doer (na alma!).

nota número três: tenha calma. o bordado é um trabalho de paciência e dedicação. não adianta tentar atropelar o processo... vai dar errado.

nota número quarto: às vezes (em 99% dos casos), vale mais a pena desfazer todo o ponto, do que tentar consertá-lo. o trabalho manual não permite remendos, ou você acerta o ponto ou precisa desfazer.

nota número cinco: tão importante quanto o desenho em si, é o verso da tela: de nada adianta esconder a "feiura" atrás de um belo desenho. o bordado requer um olhar delicado tanto sob o desenho quanto por trás dele.



p.s.: as notas se aplicam (em certo grau) à vida.



sábado, 11 de abril de 2020

das coisas que só pude perceber com 20 e tantos anos

dois anos.  um pouco mais de 730 dias. 17 mil e tantas horas.

relendo tudo que postei vejo que, apesar de tanto tempo, as coisas continuam meio que iguais por aqui.

surgiram alguns novos personagens nesse enredo, mas o fim é o mesmo: sensação de impotência, insegurança, sentimento de ser sempre substituível.

tic, toc, tic, toc, tic, toc.

e me pergunto: até quando? será que este é o fardo dessa minha encarnação?

- para, quanto vitimismo!
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mas esse não é um relato de irresignação e nem de lamentação! longe disso!
é apenas um texto afirmativo de que agora, mais do que nunca, eu estou acordada.
assumi minhas fraquezas e percebi de que essa situação se repete por que EU deixo. se cheguei até aqui foi por manter esse permissividade; aceitar menos do que mereço; se contentar com pouco; não dizer não; caber dentro de pequenas formas.


não mais.

acabou.

tá aqui os 'nãos' pelos 27 anos da minha vida:

não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não e não!


a partir de agora (e pra sempre), sempre terão muitos eus e muitos nãos.


seja bem vinda meu novo eu.